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quinta-feira, 24 de junho de 2010

Desestruturando as estruturas

Quando comecei a rascunhar o texto de hoje, percebi que estava iniciando-o da mesma maneira que o texto anterior, a partir de minha descrença em padrões comportamentais vigentes. Bem, mas este não é um assunto para hoje, depois quem sabe.
Comecemos: Eu sou muito desconfiada com livros de auto ajuda, embora algumas pessoas digam que eles realmente ajudam. Mas, um dia desses, folheando um deles, encontrei um conceito que ficou ecoando em minha mente por vários dias até que consegui sentar e explorá-lo mais.
Segundo o psiquiatra Roberto Shinyashiki os seres humanos necessitam de estruturas, estas são fontes de referências e são tão importantes que quando se alteram cria-se um novo jeito de organizar uma nova estrutura que possa nos dar referências concretas de vida. Talvez esse seja um dos grandes dilemas e motivo de crise exienciais do humano - viver em busca de alcançar as tão sonhadas referências. E se nao alcançadas, muda-se as referências ou elaboram outras. E por mais um tempo mantem-se estagnados nas novas referências que já tornaram-se velhas.
A falta de flexibilidade caracteriza o comportamento de muitos de nós, causando angústia, impossibilidade de criação, medo e desespero.
Quebrar esse padrão não parece ser fácil, mas talvez a consciência de que ele existe ajude-nos a encará-lo mais acertivamente.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Afetividade Virtual


Eu sempre fui (e ainda sou) muito descrente quando à seriedade e ao comprometimento das pessoas envolvidas em relacionamentos virtuais. Quando falo de relacionamentos virtuais nao estou me referindo apenas aos namoros e romances mantidos pela web, mas à todas as formas de sociabilidade que existem nesse novo espaço contemporâneo.

Concordo com Bauman quando este afirma que diferentemente dos relacionamentos reais, é fácil entrar e sair dos relacionamentos virtuais; em comparação com a coisa autêntica, lenta, pesada e confusa que muitas vezes nos são apresentados e experienciados, estes parecem ser mais inteligentes e leves, fáceis de manusear, compreender e usar, sempre pode apertar a tecla de deletar!

Para mim, os motivos dessa substituição já estão mais que esclarecidos e respondidos pela simples frase acima. O que tem me chamado atenção mesmo é a influência da virtualidade na vida das pessoas. Escuto diariamente relatos que enfatizam coisas do tipo "ahhh, nos falamos ontem a noite pelo msn e a briga foi feia", "não quero cancelar meu orkut, tenho dó de perder os depoimentos que recebi", "minha mãe é viciada em colheita feliz e por isso quase nao temos tempo de conversar quando ela chega em casa" e por aí vai...quanta corporalidade sendo substituída por sinais e signos, quanto olho no olho sendo trocado por um lcd, quanta afetividade esquecida....

Vivemos em uma época que, como diz Gaiarsa, a necessidade de envolvimento é gritante, se não estamos ligados nada acontece entre nós. Se este envolvimento é deixado de lado e torna-se enfatizado o envolvimento virtual, o que acontece? Essa resposta eu não tenho, não adianta sugerir uma consequência agora, é esperar e cantar com Belchior... "e no ecritório em que trabalho e fico rico, quanto mais eu multiplico diminui o meu amor..."

sábado, 24 de abril de 2010

Mais Solidão, Menos Prozac


Estava eu sexta feira a noite lendo "Ensaios sobre o amor e a solidão" quando tive a sensação de que tudo que o autor Flávio Gikovate disse gostaria eu de ter dito. Na verdade eu disse, mas não com a clareza que ele colocou. O tema do amor é recorrente, para mim, porque, ao meu ver, está intimamente ligado à liberdade. Muito embora, se me for pedido para definir liberdade não saberei fazê-lo. Liberdade e amor são realidades (ou criações humanas, nem sei) que por desequilibrarem-se quando juntas, estão causando o fenômeno solidão. E se você pensou que isso é negativo, engana-se! Acontece que cada vez mais as pessoas tem percebido o quanto é nocivo certos amores (a grande maioria) pela relação de dependência que causam e aí preferem estar sozinhos. Se é para estar acompanhado em um movimento simbiótico, é preferível o autismo como estilo de vida. Percebem que, na maioria das vezes, o que as uniu a seus pares foi o sentimento de inferioridade ainda mascarado, eventos fragilizadores que deixam o cupido fazer a festa. Ora, se o fenômeno amoroso é causador da destruição da pouca liberdade psíquica que nos resta vivendo nessa sociedade, para que continuar com ele? Nao seria mais interessante construir outras formas de relacionamento onde primeiramente fossem fortalecidos os laços individuais consigo mesmo? Diferente de Caio Fernando Abreu ao escrever "estou me transformando em um ser humano meio viciado em solidão. Não sei mais falar, abraçar, dizer coisas simples como "eu gosto de você".", este ser humano que agora emerge estaria mais apto para o amor, uma vez que primeiramente respeitou a construção tão árdua de sua individualidade.

sábado, 30 de janeiro de 2010

Sobre o amor e suas reticências...

Tão comum é, ao término de um relacionamento amoroso, os amantes (os que foram abandonados) se questionarem sobre sua capacidade de amar, a capacidade do outro, o motivo real do fim, a birra e o esperneio para uma possível volta, a autopunição marcada por sentimentos de culpa e desvalorização pessoal. O medo de ficar sozinho, a felicidade estampada no rosto de outros casais, os pensamentos obsessores sobre o ex (e a lembrança dos outros exs) incomodam incessantemente.
Lendo Rogers esta manhã entendi algo sobre o fim de relacionamentos que, talvez, sirva para todos aqueles que estejam passando pelas situações descritas acima. Entendi através de uma analogia feita pelo autor sobre as pessoas, o amor e o pôr-do-sol, porém em nenhum momento Rogers falou sobre o fim de relacionamentos, mas as palavras dele me trouxeram algumas idéias.
De acordo com Rogers, as pessoas são tão belas quanto um pôr-do-sol quando as deixamos ser. De fato, talvez possamos apreciar um pôr-do-sol justamente por não podermos controla-lo, simplesmente olhamos com admiração sua evolução. Assim é o amar com possibilidades de crescimento. Uma pessoa amada compreensivamente desabrocha e desenvolve seu eu próprio e único.
O que acontece (agora é Renata falando) é que você leitor que se identificou desde o começo, amou sim, apenas não foi amado (ainda! e não tenha essa afirmação como depreciativa). E se você foi amado, pode não ter amado quem te amou. E é um direito seu, assim como é um direito do outro não te amar também. Desencontro, apenas. Não são todos os dias que admiramos o pôr-do-sol. E existe ainda outra possibilidade, foi amado por quem amou e não continuaram o amor porque em algum momento não souberam amar ao mesmo tempo.