Páginas

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Afetividade Virtual


Eu sempre fui (e ainda sou) muito descrente quando à seriedade e ao comprometimento das pessoas envolvidas em relacionamentos virtuais. Quando falo de relacionamentos virtuais nao estou me referindo apenas aos namoros e romances mantidos pela web, mas à todas as formas de sociabilidade que existem nesse novo espaço contemporâneo.

Concordo com Bauman quando este afirma que diferentemente dos relacionamentos reais, é fácil entrar e sair dos relacionamentos virtuais; em comparação com a coisa autêntica, lenta, pesada e confusa que muitas vezes nos são apresentados e experienciados, estes parecem ser mais inteligentes e leves, fáceis de manusear, compreender e usar, sempre pode apertar a tecla de deletar!

Para mim, os motivos dessa substituição já estão mais que esclarecidos e respondidos pela simples frase acima. O que tem me chamado atenção mesmo é a influência da virtualidade na vida das pessoas. Escuto diariamente relatos que enfatizam coisas do tipo "ahhh, nos falamos ontem a noite pelo msn e a briga foi feia", "não quero cancelar meu orkut, tenho dó de perder os depoimentos que recebi", "minha mãe é viciada em colheita feliz e por isso quase nao temos tempo de conversar quando ela chega em casa" e por aí vai...quanta corporalidade sendo substituída por sinais e signos, quanto olho no olho sendo trocado por um lcd, quanta afetividade esquecida....

Vivemos em uma época que, como diz Gaiarsa, a necessidade de envolvimento é gritante, se não estamos ligados nada acontece entre nós. Se este envolvimento é deixado de lado e torna-se enfatizado o envolvimento virtual, o que acontece? Essa resposta eu não tenho, não adianta sugerir uma consequência agora, é esperar e cantar com Belchior... "e no ecritório em que trabalho e fico rico, quanto mais eu multiplico diminui o meu amor..."

sábado, 24 de abril de 2010

Mais Solidão, Menos Prozac


Estava eu sexta feira a noite lendo "Ensaios sobre o amor e a solidão" quando tive a sensação de que tudo que o autor Flávio Gikovate disse gostaria eu de ter dito. Na verdade eu disse, mas não com a clareza que ele colocou. O tema do amor é recorrente, para mim, porque, ao meu ver, está intimamente ligado à liberdade. Muito embora, se me for pedido para definir liberdade não saberei fazê-lo. Liberdade e amor são realidades (ou criações humanas, nem sei) que por desequilibrarem-se quando juntas, estão causando o fenômeno solidão. E se você pensou que isso é negativo, engana-se! Acontece que cada vez mais as pessoas tem percebido o quanto é nocivo certos amores (a grande maioria) pela relação de dependência que causam e aí preferem estar sozinhos. Se é para estar acompanhado em um movimento simbiótico, é preferível o autismo como estilo de vida. Percebem que, na maioria das vezes, o que as uniu a seus pares foi o sentimento de inferioridade ainda mascarado, eventos fragilizadores que deixam o cupido fazer a festa. Ora, se o fenômeno amoroso é causador da destruição da pouca liberdade psíquica que nos resta vivendo nessa sociedade, para que continuar com ele? Nao seria mais interessante construir outras formas de relacionamento onde primeiramente fossem fortalecidos os laços individuais consigo mesmo? Diferente de Caio Fernando Abreu ao escrever "estou me transformando em um ser humano meio viciado em solidão. Não sei mais falar, abraçar, dizer coisas simples como "eu gosto de você".", este ser humano que agora emerge estaria mais apto para o amor, uma vez que primeiramente respeitou a construção tão árdua de sua individualidade.